«Brit Shalom» – Leis práticas para Bnei Noach

Capítulo 4: Leis referentes a

“Louvem a D’us todos os povos, enalteçam-No todas as nações” (Salmos 117:1)
“Cada pessoa que amaldiçoar a D’us será responsável por seu pecado” (Levítico 24:15)


  1. Tanto a bnei Noach quanto a judeus é proibido proferir uma blasfêmia ou uma maldição ao Criador do Mundo[1].
  2. A base deste preceito é negar a visão pessimista acerca do mundo[2]. Quem enxerga apenas o mal no mundo de D’us tende a culpar o Criador deste mundo. De acordo com o Talmud[3], este preceito já foi ordenado a Adão[4], e é um valor básico para a manutenção da humanidade.
  3. Esta proibição inclui todos os Nomes de D’us e todas as suas alcunhas, como “Misericordioso” ou “Benevolente”, assim como toda e qualquer alcunha conhecida por todos como referente a D’us. Esta proibição é válida em qualquer língua[5].
  4. É proibido Dirigir-se a D’us de um modo insolente – ou seja, falar de uma forma rude ao Criador[6].
  5. Algumas autoridades incluem a ideia ateísta nesta proibição[7]. Contudo, é necessário analisar cuidadosamente a intenção de quem proclama esta convicção ateísta, pois em alguns casos ela é apenas uma expressão de negação da idolatria[8], em respeito à qual o Talmud diz que “todo aquele que rejeita a idolatria é chamado de ‘judeu'”[9].

Conduta apropriada

  1. Quando alguém escuta outra pessoa blasfemando D’us, é correto que rasgue suas roupas, por conta da gravidade de tal ato[10].
  2. Não se deve cometer nenhum ato que expresse desprezo a D’us, mesmo se tal ação não for passível de punição. Nisto está incluso não causar qualquer estrago a livros sagrados, Nomes sagrados de D’us e sinagogas[11].
  3. Não se deve pronunciar um dos Nomes de D’us em um lugar que não é limpo, ou quando a pessoa não está limpa ou não está vestida[12]. Assim, também, não se deve jurar em Nome de D’us sem necessidade (fora de um tribunal, por exemplo), ainda mais jurar uma mentira[13].
  4. Disseram os Sábios; “Há três parceiros no ser humano (em sua concepção): seu pai, sua mãe e o Santo, Bendito seja”[14]. “O versículo comparou a honra a eles à honra aos Céus”[15]. Além disso, honrar o pai e a mãe[16] faz parte da moral humana amplamente aceita em todo o mundo[17], assim como a veneração do pai e da mãe[18]. É desnecessário dizer, portanto, que não se deve bater neles[19] ou blasfemá-los – D’us não o permita[20].
  5. Como se honra os pais? Servindo-lhes comida e bebida, acompanhando-os quando entram e quando saem, e afins. Como se teme a eles? Não se sentando em seu lugar, não refutando o que dizem de um modo que lhes traz vergonha, não chamando-os por seu nome próprio e afins[21].
  6. A Torá ordena honrar pessoas de idade[22], assim como sábios de Israel e de bnei Noach[23]. É correto comportar-se de modo honroso com qualquer pessoa, e é ainda mais correto que não se deve praguejar e amaldiçoar ninguém[24].
  7. É necessário tomar um cuidado especial para não praguejar pessoas que tem uma posição de autoridade ou pessoas importantes, ainda mais para não blasfemar o Povo de Israel[25].
  8. Os Sábios de Israel louvaram as outras nações por honrarem a Torá[26].
  9. É uma obrigação moral agradecer ao Criador por todo o bem que Ele concede à pessoa[27]. Baseados neste princípio, os Sábios de Israel compuseram as bênçãos de louvor e as bênçãos de agradecimento recitadas cada vez que alguém tem proveito de algo (como beber ou comer)[28] ou em ocasiões alegres. Estas bênçãos constam nos livros de orações (sidurim)[29].
  10. É necessário agradecer também por ocasiões difíceis, pois seu propósito é levar a algo bom[30].
  11. Quem ouve outra pessoa recitando uma bênção responde “amén”[31], para demonstrar sua identificação com o que foi dito nela. Isto é válido também para um judeu que escuta uma bênção da boca de um ben Noach, contanto que esteja claro que a intenção deste é louvar apenas ao Criador do Mundo e que ele não inclui mais nenhuma entidade nesse louvor[32].
  12. É um belo costume agradecer a D’us pela própria existência quando a pessoa desperta do sono noturno. As palavras deste agradecimento são as seguintes: “Agradeço a Ti, Rei vivo e perpétuo, que devolvestes a mim minha alma, quão grande é Tua confiança”[33].
  13. A bênção mais exaltada é a recitada pela comida após uma refeição com pão, denominada de “Bênção após a Refeição” (Bircat Hamazon)[34].
  14. É uma responsabilidade especial do ser humano cuidar da integridade do mundo de D’us, conforme consta no Midrash[35]: “Tudo o que criei, criei para você. Preste atenção para não estragar (com seu comportamento) e destruir meu mundo”. Portanto, aos Filhos de Israel foi proibido estragar ou desperdiçar qualquer vegetal, animal ou parte do corpo de um ser humano sem necessidade. Esta proibição é denominada “bal tashchit” (literalmente: “não estrague”)[36], e é apropriado que cada pessoa se porte dessa maneira.

[1] Levítico 24:15-16; Sifra Emor, Parágrafo14, d”h Ish; Bavli San’hedrin 56a.

[2] Explicação do Rav Yehuda Leon Ashkenazi.

[3] Bavli San’hedrin 56b; confira Cuzari 3:73.

[4] Gênesis 2:16; San’hedrin Ibid.

[5] Mishnê Torá, Hilchot Melachim 9:3. Alguns (Minchat Chinuch, Mitsvá 70, de acordo com o Rambam) sustentam que a punição por esta proibição é aplicada apenas quando alguém blasfema ou amaldiçoa a D’us dizendo que um Nome de D`us prejudicará outro Nome de D`us como, por exemplo, “Yossi machucará Yossi” (“Yossi”, neste caso, é um nome próprio comum utilizado como eufemismo, em todos os casos a pessoa é passível de punição (Meíri, San’hedrin 56a, no início).

[6] Confira Bavli, Baba Batra 15b, em respeito a Iyov (Job).

[7] Confira Maharal, Guevurot HaShem, capítulo 66, d’h veelu sheva mitsvot; confira Margaliyot Hayam sobre San’hedrin 56a, parágrafo 25.

[8] Uma vez que, de acordo com o Rambam (Guia dos Perplexos 1:59), o conhecimento apropriado de D`us inclui a negação de qualquer atributo positivo de D’us, é possível incluir neste tipo de louvor a visão ateísta baseada na negação de superstições.

[9] Bavli Meguilá 13a; uma vez que a raiz da palavra “judeu” (“yehudí”) é “hodaá” (reconhecimento), e a negação da idolatria presume o reconhecimento da existência de D`us.

[10] Mishnê Torá, Avodá Zará 2:10.

[11] Deuteronômio 12:1-4; Mishnê Torá, Yesodei Hatorá 6:1,7-8.

[12] Bavli Shabat 10b; Mishnê Torá, Keriyat Shemá 3:5.

[13] Êxodus 20:7; Deuteronômio 5:11.

[14] Bavli Kidushin 30b.

[15] Ibid.

[16] Êxodus 20:12; Rashbach Gaon sobre Gênesis 34:12; Ibn Ezra sobre Deuteronômio 21:13.

[17] Yerushalmi, Peá 1:1 d”h kibud av vaem; Bavli Kidushin 31a, na história de Dama Ben Netina.

[18] Levítico 19:3.

[19] Êxodus  21:15.

[20] Levítico 20:9.

[21] Mishnê Torá, Mamrim 6:1-3.

[22] Levítico 19:32.

[23] Bavli Kidushin, 32b; Mishnê Torá, Talmud Torá 6:9.

[24] Mishná Avot 4:1.

[25] Levítico 19:14; Sifra Kedoshim, Parashá 2, d”h lo tekalel; Sefer HaChinuch Mitsvá 231.

[26] Êxodus  22:27.

[27] Bavli Sotá 10b; Gênesis Raba, Parashá 49, Siman Dalet.

[28] Bavli Berachot 35a.

[29] No livro de orações “Berit Olam” incluimos uma versão dessas bênçãos apropriada para bnei Noach.

[30] Mishná Berachot 9:5.

[31] Shulchan Aruch, Orach Chayim, Siman 215:2.

[32] Yerushalmi, Berachot Capítulo 9 (no fim); Shulchan Aruch ibid., Remá.

[33]  Há algumas versões diferentes deste agradecimento, cuja fonte é bem antiga e já mencionada por Rabi Moshe Ben Makir em Seder Hayom.

[34] Deuteronômio 8:10. A versão apropriada para bnei Noach está incluída no livro de orações (sidur) “Berit Olam”.

[35] Kohelet Raba, Seção7, Siman 13.

[36] Deuteronômio 20:19; Sefer HaChinuch, Mitsvá 529.